Funcionários do Hospital Santa Rosa de Lima conseguiram reanimar coração de agricultor cerca de 20 minutos após parada cardíaca 61do
Dezoito horas de heroísmo salvaram a vida de Teodoro da Rocha, 65 anos. O
coração do agricultor aposentado parou por volta da meia-noite de
terça-feira e ele foi encaminhado ao hospital pelo Serviço de
Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
Após sofrer uma parada
cardíaca em Trindade do Sul, no norte do Estado, o idoso foi mantido
vivo graças ao esforço de uma equipe do Hospital Santa Rosa de Lima, que
teve de se revezar no bombeamento de um respirador manual até que o
Estado liberasse um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Quando
médicos e enfermeiros conseguiram reanimá-lo, cerca de 20 minutos
depois, a vitória transformou-se em frustração. Com a pressão instável e
sem condições de respirar naturalmente, o idoso precisava ser
transferido com urgência para uma UTI.
Como é de baixa
complexidade, o hospital não tem obrigação de manter leitos deste tipo
na instituição. Quando necessário, precisa recorrer à Central de Leitos
do Estado.
Enquanto travava mais uma batalha na tradicional guerra
por vagas, a equipe ou 18 horas bombeando ar em um respirador manual
– substituto menos eficiente do respirador mecânico, que existe em UTIs
– para evitar uma parada respiratória.
O aparelho é conectado ao
sistema respiratório e necessita de estímulo manual para funcionar,
como uma espécie de bomba de ar. É preciso apertá-la com as duas mãos,
em movimento ritmado, que imite o funcionamento do pulmão. A enfermeira
Elizandra da Silva, 33 anos, foi a primeira assumir o posto no
respirador. Quando cansava, era substituída por uma técnica de
enfermagem, de plantão, na madrugada.
Com nove anos de profissão e
há 15 trabalhando no hospital, Elizandra conta que é comum utilizar o
respirador manual em pacientes, mas nunca por tanto tempo. É um
procedimento que deve ser feito de forma emergencial, até que ocorra a
transferência para um hospital maior. Antes, ela tinha istrado um
respirador manual por "apenas" três horas.

O médico Claudinei Gugel Machado, 45 anos, responsável pelo atendimento
de Rocha, também entrou no revezamento. E lamentou a espera.
– Ele deveria ter sido transferido em no máximo duas horas para uma UTI – reclama Machado.
Família entrou na Justiça por vaga
Sem
esperança de conseguir um leito para o pai, os quatro filhos de Rocha
decidiram entrar na Justiça. Contrataram um advogado ainda na madrugada
e, às 5h, o juiz já havia concedido uma liminar que determinava a
internação imediata do idoso em uma UTI, com transporte realizado por
uma UTI móvel.
– Vemos esse desespero por leitos todo dia, mas só
sabemos como é duro quando sentimos na pele – relata o filho Marcelo da
Rocha, 35 anos, que trabalha como vigilante no hospital de Nonoai.
Apesar
da decisão judicial, a vaga para o paciente só foi confirmada por volta
das 14h, no Hospital da Cidade, em o Fundo, a cerca de cem
quilômetros de distância. O transporte, no entanto, só chegou a Trindade
do Sul por volta das 17h. No total, com a troca de turnos, sete pessoas
se revezaram no bombeamento do respirador, incluindo uma das filhas de
Rocha, que é técnica de enfermagem.
– Seremos sempre gratos por
isso. Eles fizeram o possível para salvar meu pai, mas se ele tivesse
sido encaminhado para a UTI antes poderia estar com um quadro melhor. O
estado de saúde dele é muito grave – explica o filho.
A
reportagem foi até o Hospital Santa Rosa de Lima para entrevistar os
outros heróis, mas a auxiliar istrativa Ana Cleta Menegaz afirmou
que a direção da instituição não autorizou que eles falassem com a
imprensa. A enfermeira Elizandra, que não trabalha mais na instituição
por motivos pessoais, e o médico deram entrevistas na clínica particular
dele, a Climed.
Sobre serem tratados como heróis, Elizandra
afirma que a equipe só fez o que jurou na formatura: trabalhar para
salvar vidas. E Machado acrescenta:
– Trabalhamos com o que
tínhamos, mas há casos em que não é possível esperar tanto por uma UTI.
Não podemos condenar as pessoas à morte por falta de estrutura.
Ambos trocariam facilmente o título de heróis por uma saúde pública melhor. O heroísmo é isso.
CONTRAPONTO
O que diz a assessoria de imprensa da Secretaria Estadual de Saúde (SES), por meio de nota
O
paciente Teodoro da Rocha foi cadastrado junto à Central de Regulação
do Estado no dia 30/12/2013, às 01h14min, para um leito de UTI Adulta.
Após uma busca ativa na rede, às 14h10min do mesmo dia foi
disponibilizado leito no Hospital Cidade de o Fundo, para onde o
paciente foi transferido com transporte em UTI móvel pago pela SES,
chegando ao local por volta das 21h.
O governo do Estado tem
ampliado e qualificado o atendimento nessa área. Somente em 2013, foram
abertos mais de 70 leitos de UTI Adulta, distribuídos em hospitais de
Canoas, Novo Hamburgo, Montenegro, Tramandaí e Venâncio Aires.
Atualmente, o Estado conta com mais de 1,4 mil leitos intensivistas
adultos, sendo 900 deles destinados ao SUS.
Fonte:ZERO HORA
Postado por:Elisete Bohrer