Novas funcionalidades transformaram equipamento essencial a toda hora e lugar 15453
Há tempos o celular deixou de ser um
aparelho que apenas faz e recebe ligações. Com as novas funcionalidades
que os aplicativos proporcionam, o equipamento eletrônico, guardadas as
devidas proporções, já é considerado por muitos uma extensão do corpo
humano, requisitado a qualquer momento, seja em casa, banheiro,
trabalho, escola, táxi, ônibus ou shows. Com maior procura, os apps
gratuitos, patrocinados por anunciantes, somam cerca de 31% de todos os
baixados na Apple Store e na Google Play em 2013. Embora a maioria seja
de jogos, como Candy Crush Saga, Subway Surfers, Fruit Ninja e Angry
Birds, as ferramentas mais funcionais, como Whatsapp, rádios locais,
Gmail, Facebook, Twitter, Snapchat, Dropbox, Easy Taxi e Google
Translate, também se destacam.
Quem consegue deixar o celular e,
por alguns instantes, olha para o lado percebe que possivelmente todas
as outras pessoas estão com o aparelho em mãos, talvez utilizando algum
serviço, quem sabe jogando. Dos poucos que não utilizam, salvo aqueles
que conseguem se controlar ou não gostam, há os que esqueceram o
equipamento em casa.
Uma das doenças do mundo moderno é a
nomofobia, o desconforto de ficar sem um aparelho de comunicação móvel.
“Essa síndrome, em que o paciente fica dependente do telefone ou da
Internet, faz com que se eleve a ansiedade de forma que as pessoas não
consigam imaginar sair à rua sem o telefone celular e, caso o esqueçam,
voltem para buscá-lo. Há situações mais graves, em que esse problema
afeta relacionamentos interpessoais, com distanciamento do mundo real e
maior isolamento”, retrata a psicóloga Jéssica Garcia.
O
coordenador do curso de Comunicação Social da Feevale, Cristiano Max,
defende que os aplicativos devem ser avaliados como ferramenta
facilitadora, pois acrescentam valor à instantaneidade, já que, através
deles, é possível pagar contas, mandar mensagens e tantas outras
possibilidades. Porém, alerta para o uso em excesso e sem limites.
Em
entrevista por telefone, Max faz uma analogia com a suposta
impessoalidade em que a adesão constante à Internet resulta. Ele revela
que recém havia saído de uma lotérica onde pagara algumas contas e a
atendente, imersa em vários afazeres, sequer olhou para ele. “São
inúmeros os benefícios que a tecnologia traz, mas, quando deixamos de
valorizar quem está ao nosso lado, pode ser um problema”, exemplifica o
doutor em Comunicação Social.
Espaço de destaque no cotidiano
Ao
trazer à tona, recentemente, o lado não tão belo do uso da tecnologia, o
filme “Her”, do diretor Spike Jonze, provoca uma reflexão sobre o
presente e o futuro dos relacionamentos. Presença constante na maior
parte do dia, os gadgets ocupam espaço de destaque no cotidiano do
brasileiro e dão o tom da película indicada ao Oscar em cinco categorias
Melhor Roteiro Original, Canção Original, Trilha Sonora Original,
Melhor Direção de Arte e Melhor Filme e que faz analogia entre as
relações humanas e a dependência virtual dos aparelhos que, não raro,
estão em postos de protagonistas, na frente da família, amores e amigos.
A
ânsia, justificada pela necessidade de estar conectado, tem aumentado o
uso desses equipamentos, segundo a pesquisa do Ibope Media. Das pessoas
que compram smartphones, 58% declaram que consomem, principalmente,
aplicativos e jogos. Há 41% que fazem compras coletivas e 32% que
adquirem ingressos pelo celular. Mas o dado que mais chama a atenção
revela que a primeira atividade que cerca de 33% fazem ao acordar é
ar o smartphone logo que acorda e 27% usam o aparelho até no
banheiro.
Nesse contexto, o coordenador do Núcleo de Comunicação
Digital da Unisinos, professor Helio Paz, considera que a Internet já
faz parte do cotidiano, assim como a água e a energia elétrica.
Tornou-se um serviço essencial. Ainda assim não é possível saber até que
ponto pode evoluir e não há como verificar se existem ou não fronteiras
para a utilização. Paz acrescenta que não é a Internet nem um suposto
padrão de uso dessa tecnologia que aproxima ou afasta as pessoas, mas as
escolhas interativas que cada indivíduo faz sobre como, quando, onde e
sob quais circunstâncias irá privilegiar o contato presencial ou
virtual. Ele explica que, para enfrentar a dependência dos aparelhos,
pode-se substituir uma compulsão por outra menos prejudicial. “Algo que
não atrapalhe a si próprio nem aos demais”, sugere.
Acompanhando velocidade dos dados
Daniela
Mittelstadt, 27 anos, já perdeu as contas de quantos aplicativos
instalou no smartphone e no tablet . Formada em Letras e moradora de
Porto Alegre, ela dá aula de Português para estrangeiros e confessa a
dependência pelo aparelho, já que resolve quase todos os problemas
diários através do celular. “Praticamente não uso meu celular para
receber ou fazer chamadas. Ele é principalmente uma fonte de
informações, como “Vai chover? Por que está lento o trânsito? Já recebi
meu pagamento? Como faço para chegar em tal parte da cidade? Quem ganhou
o jogo? Quais compromissos tenho hoje? Saiu uma nova matéria da minha
jornalista favorita?”, cita, ao tentar mensurar a importância do celular
na própria vida.
Twitter, SoloWeather, Tango e Viber, Netfix,
Gmaps, Gmail, dicionários bilíngues e Duolingo são alguns dos principais
programas que Daniela tem no celular e no tablet, apesar de não desejar
possuir a tecnologia mais avançada. “O Easytaxi é um dos aplicativos
mais úteis. Nada melhor do que saber quem é o taxista que vai me buscar,
por onde anda e quanto tempo vai demorar. Com o Runtastic, correr nunca
mais foi a mesma coisa. Quantos quilômetros percorri, em quanto tempo,
quanto falta, etc.”, argumenta Daniela, recordando que, com tantas
formas de usar, a bateria não dura como no ado.
Embora seja
beneficiada com a rapidez de informação, ela pondera os prejuízos que o
mau uso pode trazer para quem decide ver somente o aspecto virtual.
“Tenho tentado apagar o celular quando estou com amigos e/ou família”,
observa.
Atrás da praticidade de aplicativos
Em
busca de economia de tempo, a servidora pública Giuliana Galante, 37
anos, quase não desgruda do smartphone e do tablet. Entre os motivos,
assim como para a maioria dos usuários, está a praticidade dos
aplicativos. “Além do e-mail, uso whatsapp, envio SMS, mando fotos e, se
estou com muito pressa e não posso digitar a mensagem, gravo áudio.
Utilizo o Viber e faço ligações gratuitas; quando quero encontrar uma
música ou artista, recorro ao Shazam”, revela a moradora de Porto
Alegre, que dissemina as novidades tecnológicas para toda a família.
Entre
os programas que Giuliana mais utiliza está o 99Táxis. Segundo ela, o
aplicativo é rápido, seguro e o melhor, gratuito. “Ao solicitar o
veículo, recebemos os dados pessoais do motorista, do carro e telefone
para contato, entre outras informações”, comemora.
Mas Giuliana
destaca que a vida ficou mais fácil, desde que essa facilidade seja
produtiva e não resulte no sedentarismo. “De forma alguma podemos ficar
isolados do contato social, até mesmo porque nada substitui um sorriso e
um bom dia, nem mesmo as mais simpáticas carinhas personalizadas das
redes sociais, os emotions”, cita.
Reservada, Giuliana explica
que as redes sociais são utilizadas com parcimônia para preservar a
privacidade e evitar problemas pessoais, como ter a rotina divulgada.
“Não me agrada autoafirmação por meio de fotos de viagens, compra de
carro novo ou imóvel. Hoje, amigos que não se encontram não reconhecem a
voz um do outro”, considera a servidora.
Fonte: Wagner Machado / Correio do Povo
Postado por:Elisete Bohrer
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