A ausência de jovens em 31,3% das propriedades familiares do RS é considerada preocupante para De David...
“Muitas políticas públicas precisam ser afinadas para atender às
demandas dos jovens rurais e garantir sua permanência no meio rural”,
afirmou o presidente da Emater/RS e superintendente geral da Ascar, Lino
De David, no Fórum “Sucessão na Agricultura Familiar”, realizado no
sábado de manhã, em Nova Petrópolis, durante o Rural Show. A ausência de
jovens em 31,3% das propriedades familiares do RS é considerada
preocupante para De David, que analisou a baixa renda como fator
determinante para a permanência, já que 50,3% dos 378 mil
estabelecimentos de agricultura familiar no Estado têm renda de zero a
R$ 10 mil por ano. “Os fatores divergem entre as diversas regiões do
Estado, mas uma renda digna é fundamental para manter os jovens na
roça”, defende o presidente.
Além de De David, participaram do Fórum na 6ª edição do Rural Show,
os presidentes da Fetag, Elton Weber, da Sicredi Pioneira, Márcio Port, e
das cooperativas Piá, Gilberto Kny, e o vice-presidente da Languiru,
Renato Briemayer, entre outras autoridades, como o diretor técnico da
Emater/RS, Gervásio Paulus e o gerente Regional e técnicos da
Emater/RS-Ascar de Caxias do Sul, Neuri Frozza. O jovem Marcos Seefeld,
22 anos, técnico agropecuário, apresentou a propriedade rural de 28
hectares, sendo 16 hectares de terras cultiváveis, onde vive e trabalha,
em Nova Petrópolis.
O jovem Seefeld diz se considerar “uma raridade”, porque a maioria
dos seus amigos foi embora das propriedades. Para ele, para permanecer
no meio rural é preciso conciliar trabalho com lazer, garantindo renda
estável. A propriedade dos Seefled tem o leite como principal produção,
mas também produz frutas, milho e suínos. “Graças a meu avô Werno, que
me incentivou, gosto muito do que faço, e isso ajuda bastante”, afirmou.
Para Marcos, “só dinheiro não adianta, é preciso políticas que
valorizem os produtos agropecuários, que garantam a venda desses
alimentos, e que desburocratizem as licenças ambientais”, afirmou, ao
lamentar que “quem faz as leis desconhece nossa realidade como pequenos
agricultores, que conservamos mais do que destruímos, pois consideram
crime, por exemplo, largar esterco nas lavouras”, confidenciou.
Ao final do evento, ficou definida a realização de debate sobre
Sucessão Familiar Rural na Expointer 2012, que acontecerá de 25 de
agosto a 2 de setembro, no Parque Assis Brasil em Esteio. “O tema da
sucessão familiar rural não pode mais ser só da família, mas deve vir
para a pauta política de toda a sociedade”, destacou o presidente da
Emater/RS.
TENDÊNCIAS
O presidente da Emater/RS destacou que o tema da sucessão familiar
rural não é só do agricultor, mas da sociedade urbana e do Estado, dada a
gravidade da situação. “Para mim, esse é o tema estruturante mais
preocupante e sério, que precisamos enfrentar”, disse, ao analisar que
79,8% dos municípios gaúchos têm menos de 20 mil habitantes cada, sendo
que 66,7% têm até 10 mil habitantes, “o que representa uma economia
exclusivamente agrícola que, sem reprodução social, tende a
desaparecer”.
Para De David, políticas públicas generalizadas não resolvem o
problema da falta de jovens no meio rural. “É preciso entender as
diferenças de público para então pensar políticas públicas
diferenciadas”, disse, ao defender que “a diversificação na propriedade é
uma das alternativas que garante estabilidade econômica e produtiva
para a propriedade”.
Em sua apresentação, o presidente da Emater/RS analisou o modelo de
desenvolvimento vigente, concluindo que a agricultura familiar
incorporou esse mesmo modelo produtivo do agronegócio ou da agricultura
empresarial. “Grande parte dos contratos do RS, financiados via Pronaf,
entre 1998 e 2010, é para compra de insumos para as lavouras de milho e
soja. Isso nos provoca a refletir sobre os bilhões investidos em
agrotóxicos e monoculturas”, destaca.
INVESTIMENTOS
Outra constatação apresentada refere-se aos investimentos públicos na
agricultura familiar. Para este ano, o RS destinou 0,9% do orçamento
para a agropecuária, contemplando as Secretarias Estaduais da
Agricultura, Pecuária e Agronegócio (Seapa) e de Desenvolvimento Rural,
Pesca e Cooperativismo (SDR). “O Estado é indutor do desenvolvimento e
precisa aumentar seu papel no apoio ao setor primário”, defendeu De
David.
O papel do Estado, da sociedade (envolvendo sindicatos, associações,
cooperativas, prefeituras, movimentos sociais e comunidades, além da
Emater/RS-Ascar) e da própria família, de começar a discutir a sucessão
quando os jovens ainda são adolescentes, devem ser conjugados na
construção de perspectivas que favoreçam a permanência dos jovens no
meio rural. Segundo De David, o Governo do Estado iniciou um debate para
a criação de uma bolsa de estudos, de médio e longo prazo, para jovens
adolescentes, na tentativa de estimulá-los e prepará-los para
permanecerem no meio rural.
“A escola não necessariamente prepara o jovem para o meio rural. Ele
precisa ser acompanhado de forma diferenciada”, defende De David, ao
antecipar a proposta de ofertar para os jovens um subsídio que cubra os
custos de uma especialização, em paralelo à escola formal, com o
objetivo de construir um processo produtivo na propriedade.
Ao final do Fórum, os presidentes da Emater/RS e da Fetag, Lino De
David e Elton Weber, anunciaram a realização de seminário sobre Sucessão
Familiar na Expointer, com parceria das cooperativas, movimentos
sociais, Governo do Estado e demais instituições representativas,
apresentando experiências bem-sucedidas de sucessão rural, até porque
2014 será o Ano da Agricultura Familiar.
Assessoria de Comunicação da Presidência da Emater/RS-Ascar 1el4k
Jornalista Adriane Bertoglio Rodrigues